domingo, 20 de novembro de 2011

DESIGNpress #4 (recortes de imprensa sobre design): COLECÇÃO D – UMA COLECÇÃO DE LIVROS SOBRE DESIGNERS PORTUGUESES


 In Pública (revista dominical do Público), 20 Novembro 2011

design

Os anticalhamaços do design português

Estava quase tudo por fazer. Mãos à obra. Jorge Silva, designer, agora Jorge Silva, coordenador da Colecção D. Para preencher a falta de uma história do design português, eis perto de 50 histórias de autores portugueses para nos falar do passado e do presente - com pouca conversa e muita imagem.

Texto Joana Amaral Cardoso - Fotografia Pedro Cunha

Jorge Silva tem uma queda pela historiografia da sua actividade profissional - a ilustração é uma paixão querida cuja história portuguesa tem coligido no seu blogue Almanaque Silva; o design é uma profissão apaixonada e surgiu a "oportunidade acidental" de colmatar a lacuna, grave, da falta de uma história do design português em livro. Mas sem "uma visão aristocrática do design", que seja um "motor aspiracional para os alunos" de design que se multiplicam pelo país.

Juntou-se o útil ao agradável: um telefonema, uma ligação profissional à Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) e a vontade do director editorial Duarte Azinheira de "reciclar e construir uma memória da contemporânea da cultura portuguesa" e nasce a ideia e a proposta da Colecção D. D de design, pois claro, "sobre design português antigo e contemporâneo, velhas glórias e novas glórias", resume Jorge Silva.

O designer, timoneiro da Silvadesigners, ex-director de arte do grupo Leya, professor, conferencista, designer e afins, sente na pele um problema: "A história do design português está toda por fazer." Sente-se nas aulas, na academia, nos museus, no exercício da profissão. Cada geração, diz, parece começar do zero e só depois faz a sua descoberta individual da herança que lhe cabe. "O design português e a memória das artes gráficas e visuais", contextualiza ao telefone com a Pública, "lutam com este abandono e esquecimento".

Ao longo da conversa, fala-se do "flagelo da ignorância" nas escolas e editoras, do "romance cansativo, mas muito facilitado pelas famílias e herdeiros dos designers" já desaparecidos que é a feitura de cada livro. Do "picante" que tem estar a fazer livros sobre os seus concorrentes (a Silvadesigners é uma empresa de design gráfico) mas também da "anemia" da indústria que devia acolher designers e da "paranóia do calhamaço" (lá iremos). E isto leva-nos ao presente-futuro. E a contas, claro, que os tempos não estão para menos.

É que também há coisas boas. Como a conclusão de que, afinal, o design pode ser associado a "viabilidade económica". Apesar de querer igualmente trabalhar a história da ilustração portuguesa, "percebi que uma colecção sobre designers era mais viável. Porque o design é uma força motora, no posicionamento das indústrias criativas e de desenvolvimento". No fundo, este é o país em que há perto de 100 cursos superiores de design e em que, segundo os dados do estudo da Augusto Mateus & Associados sobre os sectores cultural e criativo em Portugal entre 2000 e 2006, o design é a actividade criativa em que o crescimento cumulativo de emprego mais aumentou -6,4 por cento.

Futuro hipotecado

O volume de trabalho e a visibilidade (e prestígio) crescentes do design em Portugal não tem de significar tomos gigantescos e palavrosos. Os tais "calhamaços", recorde-se. A Colecção D quer-se "ágil e bem confeccionada, bilingue e capaz de mostrar muitas imagens", explica o coordenador da colecção, frisando que estes são potenciadores de "um primeiro encontro com estes autores" e que são mesmo "livros de pouca conversa" - e a existente é focada. A historiadora de design Raquel Peita prefacia o Dl, dedicado aos R2, e a directora do Museu do Design e da Moda (Mude), Bárbara Coutinho, escreve no segundo livro da colecção sobre Victor Palla.

O Mude, aliás, apoia a colecção e é lá que, terça-feira, a colecção tem o seu lançamento oficial com um debate moderado por Bárbara Coutinho, com Jorge Silva, Simonetta Luz Afonso, Mega Ferreira e Henrique Cayatte, presidente do Centro Português de Design (parceiro do projecto). A Colecção D tem um elenco previsto de cerca de 50 nomes, a ideia é lançar seis tomos por ano e os primeiros números já estão nas lojas - atelier R2 (Lizá Defossez Ramalho e Artur Rebelo, design gráfico) e Victor Palia (designer gráfico das capas das editoras Arcádia e Coimbra, por exemplo); os senhores que se seguem são Pedro Falcão e Paulo-Guilherme, ainda em 2011.

O próximo ano começa com Marco Sousa Santos e Fernando Brízio (ambos nas áreas do produto) e ainda por aí virão Miguel Vieira Baptista (produto, exposição), Luís Miguel Castro, Sebastião Rodrigues e Dorindo Carvalho. A ideia é integrar designers de todas as áreas - gráfica, produto, expositivo, moda, jóias. Mas é uma verdade, e Jorge Silva acolhe-a, que neste início há preponderância do design gráfico. Tudo porque, "dadas as condições do país, um designer gráfico tem uma produção mais vasta do que um designer de produto", exemplifica. Cartazes, capas, livros, folhetos vs. cadeiras, mesas, candeeiros sem garantia de produção em série num país industrialmente amputado. Mas o equilíbrio é uma preocupação e existirá, garantem os organizadores da colecção.

As condições do país levam-nos ao princípio da conversa. Afinal, porque há uma história por fazer de uma actividade que na última década é tão valorizada? Hoje, o interesse é crescente, admita-se. Mas além das maleitas costumeiras diagnosticadas ao português (a memória curta, a descrença, a maledicência), Jorge Silva arrisca uma explicação: é tarde. "O design chegou muito tarde a Portugal, não enquanto matéria de trabalho [vejam-se os casos de Palia, António Garcia ou Sebastião Rodrigues, que não se chamavam designers mas faziam design no século XX português], mas como disciplina de estudo, como consciência de si próprio. 0 design só chega às faculdades nos anos 1970, num país com sobressaltos e crises constantes, que hipotecou o futuro e a sua capacidade de produção teórica e de produto."

Por isso, esta colecção é um misto de "serviço público" - um elogio de Jorge Silva à INCM -e educativo. Além do circuito comercial, a Silvadesigners tem uma campanha para que todos, mesmo todos os professores de design do país saibam da Colecção D. Um ponto de contacto do futuro com o presente e o passado do design português.

A colecção (€16 cada volume) é numerada e as suas capas (da Silvadesigners) querem ser uma "leitura descontraída da época e obra dos autores"






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O aparecimento desta “Colecção D”, com a chancela da Imprensa Nacional Casa da Moeda e a direcção editorial do atelier SilvaDesigners, é, indesmentivelmente, um grande acontecimento no pequeníssimo meio do design de comunicação em Portugal, um país cuja bibliografia em torno de temas comuns às disciplinas que compõem ou compuseram historicamente o design gráfico é escassa e quase sempre destinada ao mercado dos livros “raros” e “esgotados”. Que a colecção comece emparelhando dois nomes mais do que consensuais da prática, ainda que de gerações distantes entre si, parece-me um gesto corajoso e que denota alguma inteligência comercial: sendo bilingues, estes são dois livros sobre designers que, de uma forma ou outra, conseguiram ultrapassar os limites nacionais e impor o nome no estrangeiro (Palla, é claro, fê-lo já postumamente e apenas através da “redescoberta” internacional do Lisboa Cidade Triste e Alegre; quanto aos R2, terá havido portfolio nacional mais “globalizado” e difundindo internacionalmente nos últimos quinze anos do que o da dupla Lizá Ramalho e Artur Rebelo?), pelo que as possibilidades de venda no mercado “global” são consideráveis. Em troca de emails com o responsável pelo conceito da colecção, o designer Jorge Silva, fiquei a saber que um dos modelos em mente seria a série de livros sobre designers contemporâneos “Design&Designers” da editora francesa Pyramid (até no formato, uns bem portáteis 18 x 15 cm), o que concorre para a ideia de uma tentativa (legítima e louvável) de entrada e competição no mercado internacional.

Por Pedro Marques em http://pedromarquesdg.wordpress.com/2011/10/13/coleccao-d-victor-palla-e-r2/

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