sexta-feira, 30 de agosto de 2013

CRÓNICA DA CASA ARDIDA, DE PIRES CABRAL – UMA CAPA PARA A EDITORIAL NOTÍCIAS QUE DEU QUE FALAR... em 1992


CRÓNICA DA CASA ARDIDA
DE PIRES CABRAL
UMA CAPA PARA A EDITORIAL NOTÍCIAS QUE DEU QUE FALAR...
em 1992

Mais uma encomenda da Editorial Notícias, entre tantas outras, mas que acabou por dar algum “barulho” na imprensa e até na televisão, pelos motivos mais inesperados. Acontece que eu não li o livro e falei com Pires Cabral, o autor, sobre o que ele quereria para a capa – contou-me, por alto, a história que havia escrito. Fiquei com a ideia de que ele queria na capa, sobretudo, a imagem de um pequeno solar do interior da Beira...

Encontrei a fotografia de um solar (não sei qual – foi um qualquer), que me pareceu apropriada e realizei uma montagem como fazia naquela altura, com sobreposição de imagens, para dar a ideia da casa em chamas. A capa foi aprovada, o autor gostou, o livro foi publicado – caso arrumado!

Eis senão quando...

... recebo um telefonema da directora de produção da Editorial Notícias:

- Machado Dias! Temos um problema grave com a capa da Casa Ardida!

- Bem, não me diga que por causa de direitos da imagem...

- Não! O caso é mais grave! Os proprietários daquele solar, cuja foto você usou, querem que o livro seja retirado de circulação porque... o solar ardeu mesmo, depois do livro ser publicado! A família está chocada e diz que a culpa foi do livro ter aparecido.

Ia-me dando um treco!

Claro que o livro não foi retirado. Mas no dia seguinte recebo em casa uma equipa de reportagem da RTP e fui entrevistado pelo Rui Direitinho. Se teria havido “macumba”, "ciências ocultas" ou coisas no género, se conhecia alguém ligado à propriedade – herdeiros ressabiados, coisa assim... Eu só tinha vontade de rir, mas lá fui respondendo (muito sério, claro – e até com ar de poucos amigos), que não, que foi uma coincidência escabrosa, não fazia a mínima ideia do que acontecera, só tinha escolhido uma simples fotografia, etc, etc...

A peça foi para o ar no telejornal das nove (ou era às oito?), apresentada pelo “orelhas” José Rodrigues dos Santos. O que eu me ri nessa noite! Mas no dia seguinte os vizinhos gozavam comigo na rua: Agora deu em incendiário? Não tem vergonha! Coitadas das pessoas! E riam-se...

Nunca soube o que se passou, nem porque é que a tal casa ardeu. Mas por causa da capa do livro, não me parece que tenha sido...

Enfim, nunca me tinha acontecido tal coisa.


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2 comentários:

  1. Ora aqui está uma história bem pitoresca e que até, aos mais supersticiosos, pode dar que pensar. Claro que o embaraço da editora, do autor do livro e do próprio capista deve ter sido grande, perante facto tão insólito e tanto "arraial" da RTP, mas o que me parece a principal conclusão a tirar desta história é que uma estranha série de coincidências — dignas do próprio "Jornal do Incrível" — acabou por ter um efeito publicitário com que, à partida, ninguém contava. Porque muita gente, decerto, foi a correr comprar o livro que tinha lançado uma "maldição" sobre o tal solar da Beira!
    Um abraço,
    Jorge Magalhães

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