J.J. Soares da Costa chamou-me de urgência e lançou-me o ultimatum: Este tipo ganhou o Nobel, dizia ele exibindo Os Intérpretes na minha frente - quero uma capa nova para este livro, amanhã à tarde, com uma tira a dizer Prémio Nobel de Literatura 1986!!! Entendido? - Perfeitamente, sr. Soares da Costa, respondi eu.
E a partir daí foi uma autêntica corrida. Li o livro todo nessa noite, a minha mulher também, um stress danado e eu sem ideia absolutamente nenhuma para uma capa que encaixasse naquela "coisa". Às seis da manhã já estava a folhear revistas, a ver se me "aparecia" alguma cena a condizer. Mas nada. Népia de népia.
Fui para a editora de manhã cedíssimo, e continuei a folhear revistas, a fazer recortes e... nada que se aproveitasse. Às cinco da tarde fiz um lettering, meio à balda e comecei a colar recortes sem nexo. Às seis da tarde, o patrão chamou-me: Então, temos capa? E eu: Bem... hummm talvez... e mostrei-lhe uma colagem a preto e branco - isto se calhar funciona, com um fundo em marfim. - É um bocado estapafurdio, respondeu o boss. O livro também é, disse eu. O que é que te parece? Perguntou o director geral à "alma negra", de nome Rui Oliveira e que me fazia a vida mesmo negra, com dúvidas e mais "ses" e "mas" e "etecetras" e "hunnns" e outros grunhidos semelhantes... Pode ser que sim, disse ele - para mim foi um alívio - e a capa avançou assim para a gráfica. No dia seguinte tive que ir a Mafra para afinar o "marfim" que propus para cor de fundo e que ninguém sabia o que era....
Bem, a capa ficou como se pode ver abaixo e, apesar de tudo, depois de reler o livro (e dessa vez achei que é excelente), até nem destoa do conteúdo...
Capa, lombada e contracapa:
________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário